sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

PARTILHANDO EXPECTATIVAS

 
Aquarela pintada por Rose Valverde no Projeto "Visão Mascarenhas" em 1989.


Pesquisando sobre a função e características dos Conselhos Municipais de Cultura, encontrei um livro que foi muito útil para aprofundar minhas reflexões.

“O conselho deve partilhar o fazer cultural e os processos de decisão cultural na cidade? Eles se constituem com poder deliberativo próprio ou são meras extensões ou expressões da política cultural em vigência? Qual o seu papel real: formular, fiscalizar, executar? Deve decidir sobre conteúdo e valores dos orçamentos para a cultura? Deve ter estrutura própria: local de reuniões, orçamento, presidente que não o secretário? Deve agir descentralizadamente? Deve Incorporar dinâmicas informais: grupos, movimentos, fóruns e outras áreas além das artes como humanidades, cultura da paz, etc.? Qual a sua inserção na cultura participativa e na cidade?”

A participação da sociedade é fator preponderante para que possamos mudar o rumo da nossa cidade que acompanha o crescimento paralelo tanto da sua estrutura física quanto das dificuldades embutidas nos altos índices de violência e de falta de perspectivas de vida e de sobrevivência. Além das dificuldades para se manter o patamar de progresso e desenvolvimento sem ver a sociedade se tornar refém da violência e do trafico, temos também a dificuldade de promover o desenvolvimento cultural e artístico da população. Como se não bastasse, as falhas no processo educacional, a falência do ensino que só abre porta para jovens privilegiados, ficamos ainda sofrendo com processo de vitimização de jovens que se apoiam no estatuto da criança para se permitir burlar as leis, famílias que desagregadas não conseguem educar e acabam abandonando seus filhos ou simplesmente passando a tarefa para a escola. Professores que se encontram despreparados e sem condições de se capacitarem para acompanhar as mudanças exigidas pela tecnologia, quando não se tornam apáticos por não estarem realmente realizando o trabalho dos seus sonhos e sim uma ocupação que lhe permite sobreviver. Enfim, enquanto não estimularmos as artes, a educação e a cultura visando o desenvolvimento do ser humano de forma integral e afinada com o que chamamos da cultura da paz fundamentada na solidariedade, não conseguiremos progredir realmente e muito menos honrar a nossa terra, a nossa pátria.

“A gestão cultural e os atores culturais no município devem ser convencidos da importância de construir modos alternativos de gestão. A freqüência da sociedade civil na política cultural pode torná-la plural, humanizar relações, mudar as práticas arraigadas do corporativismo, formatar um projeto político-cultural de prosperidade material e espiritual junto com a localidade. O compartilhamento é uma socialização de saberes e quereres, um aprendizado democrático entre os diferentes e o que os une é a igualdade de participação política e de decisão coletiva. Essa participação ainda contribui para o amadurecimento político de todas as partes e para a inversão de prioridades na gestão pública. A cultura participativa é também importante para a formação cultural de sujeitos ativos, inventivos, capazes de mover a sociedade para alternativas sociopolíticas inovadoras. Ela pode assegurar continuidade dos projetos significativos para a sociedade, a moralização da coisa pública, a gestão transparente e ética, a formação de comunidades vigilantes dos direitos conquistados, a difusão da criação e a fruição cultural nos espaços públicos. Enfim, pode ser um componente básico para o enraizamento e valorização da criação sociocultural e do pertencimento à localidade.”

Como, vemos humanizar relações, buscar interagir e participar do processo de construção da democratização da cultura e das artes, assim como possibilitar o crescimento e a sensibilização estética dos indivíduos que fazem parte da comunidade é um caminho essencial para atingirmos um nível de desenvolvimento mais estável de nossa sociedade, diminuindo as injustiças, combatendo a corrupção e a exploração e, incentivando a justiça, a igualdade e o respeito à diversidade em nosso município.

“O conselheiro deve se tornar agente multiplicador de governança democrática, com capacidade técnica para entender os mecanismos burocráticos da gestão pública, definir propostas e ações culturais na cidade e reforçar a autonomia dos movimentos sociais.“

Fazer esse papel de mediador entre o poder público e a comunidade é uma tarefa desafiadora e ao mesmo tempo instigante, pois, a maior satisfação que podemos obter é perceber o crescimento e a transformação de uma sociedade que abraça a arte, a educação e a cultura como bens permanentes e que não podem ser trocados por benesses e ações paternalistas, mas, são baseados no progresso real e profundo do indíviduo. A sabedoria que o homem adquire só a ele pertence, mas vemos que só um homem consciente e sábio, consegue dividir sua riqueza com aqueles que compartilham a sua existência.

“Fala-se muito sobre a relação entre cultura e educação, base de uma política pública que incide sobre os valores de cidadania. Essa articulação é rara entre os municípios brasileiros, tanto no campo dos governos como no da sociedade civil. Culturalizar a escola e educar a cultura para que os valores compartilhados se afirmem é prioridade número um da governança no campo cultural.”

Mas, refletindo ainda sobre como um conselho pode atuar e interferir nas prioridades do municipio sem ficar seguro pelas rédeas que podem tolher sua independência, liberdade de ação e proposição, temos antes de tudo que começar a lutar para aumentar a união da classe artística, assim como mobilizar a comunidade para a necessidade de defender suas prioridades.

“É importante estar atento para os recursos públicos para os conselhos. Se você quer saber a prioridade de um governo, olhe para como ele distribui os recursos públicos, para o que ele está dando prioridade. Conselhos que não discutem diretamente o orçamento, que não olham para as contas públicas, não desvendam como está sendo gasto o dinheiro público, acabam falando de coisas muito genéricas, muito abstratas e, na verdade, não têm poder de fato. Mexer com dinheiro é ter poder de fato. Só assim é possível ter um bom e efetivo conselho.”

Não se vive de sonhos. Não se cria, não se transforma nada sem saber administrar, gerir, e principalmente sem defender seus ideais e sem alimentar em seu interior uma forte paixão pelo que faz e uma grande vontade de fazer o melhor, e ser útil.
Nos últimos anos, tenho estudado muito, tenho exercitado nas pequenas coisas da minha vida, a paciência, a abnegação e a persistência. Pensando sempre em caminhar um passo após o outro mas nunca me permitindo parar ou desistir. Essa convicção que possuo em defender a arte é, em minha vida, o alimento maior que me sustenta. 
Se não fosse a arte me instigando e permitindo reconstruir caminhos e flexibilizar resultados, não estaria hoje pleiteando o cargo de Conselheira dessa cidade. Uma cidade que adotei  de coração, uma cidade aonde nasceu minhas maiores obras, que são minhas filhas, e principalmente uma cidade que tem uma história que me cativa e que sei que posso ajudar também na medida em que puder contar com a confiança dos artistas de Juiz de Fora para representa-los nesse conselho.

No mais só posso repetir uma frase que há anos faz parte de minha meta: “Vamos fazer da vida uma arte e da arte um alimento para a vida.”

Obrigada por sua atenção,

Rose Valverde – candidata em 2011 ao Conselho Municipal de Cultura na área de artes plásticas – Juiz de Fora – Minas gerais.

Referência Bibliográfica 
FARIA ,Hamilton; MOREIRA, Altair José; VERSOLATO, Fernanda, Organização. Você quer um bom conselho?Conselhos Municipais de Cultura e Cidadania Cultural, São Paulo: Instituto Pólis, 2005. 128p.

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